segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Colóquios com Mamma Carina e a Poesia

Mês passado estávamos de férias (Eu e Mamma Carina). Portanto, tivemos a oportunidade de estarmos mais tempo juntos - inclusive no tempo que estive na casa dos Bittencourts em Pouso Alegre. É sempre bom conversarmos, pois ambos crescem, tanto espiritual como intelectualmente. Conversávamos sobre o reacinismo de alguns e, as vezes, somos comos uma voz que clama no deserto. Muitas vezes uma voz solitária em meio a tanto cinismo e hipocrisia. Enfim, falávamos sobre a visita dela à uma cobertura, onde os "reaças" balbuciavam as falácias de sempre. Chegamos a conclusão que a Verdade não atinge as coberturas. Então escrevi o seguinte: A Verdade A Verdade vem do alto Desce como um raio Na mesma velocidade Nem sempre na mesma intensidade Atinge os subterrâneos Vive no underground Muita vez em local não próprio Quase sempre, não está onde deveria deveras Invisível aos míopes Mas Ela sempre está lá Só visível aos "bem-aventurados" Está lá dentro No talvegue da alma No centro do peito Por isso, não atinge as coberturas. Quando mostrei isso a ela, ela pirou! Segundo ela, colocará na página de relacionamentos dela (olha que privilégio)! Mas tudo tem um porém. Na sexta-feira saí com o Profº Dr. André Miatello para uma pizza e todo alegre mostrei a ele o que escrevi e ele disse: "É... Realmente a poesia é a arte de reescrever." ?!?!?!?! Questionei se estava ruim e obtive a resposta: "Bom, depois que você reescrevê-la algumas vezes..." Segundo ele, é necessário ter alguém que critique fortemente o texto, pois assim queremos escrever mais e melhorar o texto. Discordo. Aqui vejo um paradoxo. Ou como diria meu amigo e Profeta Yoshitake "uma dicotomia". Se meu intuito é escrever um artigo acadêmico acredito que a crítica do Miatello é válida. Portanto, como meu intuito é - nesse momento - escrever poesia, a euforia de Mamma Carina é plausível. Não penso que a poesia é a arte de reescrever. Um dos maiores - na minha humilde opinião O MAIOR - poeta de todos os tempos Carlos Drumond Andrade escrevia de bate-pronto a maioria de suas poesias e depois recusava-se até de lê-las. A poesia é livre. A poesia pode ser qualquer coisa, pode ser tudo, exceto a arte de reescrever. Se for para reescrever, faço outra poesia. Por ser arte, é subjetiva, mas se a pessoa gostou ou não, aí é outra coisa.
Arlley Parreira 02/2010

4 comentários:

Carina e Bruno disse...

Mas é que o Miatello não teve o privilégio de acompanhar o processo de criação como eu.
Adorei mesmo!
Beijo pro cê

Cristiana disse...

Caros, estou mais com a mamma Carina do que com o Miatello. De modo geral, acho que a poesia é maravilhosa (e muito mais interessante que textos acadêmicos ;)) por nela haver espaço para Drummonds (que escrevem de bate-pronto) e para T. S. Elliots (que revisam e depois dão para amigos poetas criticarem duramente, depois reescrevem, revisam e dão para amigos poetas criticarem duramente e assim sucessivamente :)). Parreira, gostei muito do poema. Mais do conteúdo do que da forma, mas os dois estão de parabéns. :)

Unknown disse...

Não é justo eu não colocar o que o Senhor André Miatello me escreveu me escrachando por correl.

Segue:
"O que você escreveu no blog me fez ir até o mal citado Drummond. Aliás, este poeta do refazimento contínuo escreveu um poema chamado "Procura da Poesia", o qual valeria a pena você ler para não escrever bobagens daquele gênero.

Entre outras coisas, Drummond dizia:

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. (grifos meus. E você dizendo que "a poesia é livre"!)




....




A poesia (não tires poesia das coisas)

elide sujeito e objeto.




...




Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.




...




Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um realize e consume

com seu poder de palavra

e seu poder de silêncio (grifos meus. Este verso parece particularmente escrito para você).




....

(Portanto, meu caro amigo, Drummond não assinaria embaixo daquela sua opinião sobre ele e muito menos concordaria com a afirmação de que "a poesia pode ser qualquer coisa". Aliás, aproveitando ainda seu texto, chego a pensar que, segundo Drummond, a diferença entre o texto acadêmico e o poético não está em que um deve ser refeito várias vezes e o outro nasce de pronto (como você escreveu), mas a diferença está no tipo de "procura pela palavra" que se faz. Neste poema, Drummond manda o poeta ir ao reino das palavras e lá retirá-las do "estado de dicionário", ele manda também: "chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra". Então, a diferença entre texto acadêmico e texto poético reside no fato de que o acadêmico escolhe um tipo de palavra e o poeta, escolhe outro. Mas ambos, invariavelmente, "convivem com as palavras", dormem com elas, acordam a seu lado, almoçam juntos. São autores desesperados pela Palavra (que coisa mais cristã, não é verdade?), obcecados por ela. Não saem escrevendo coisas sem antes ter olhado cada uma, de perto, seriamente!).

Confesso que, na altura em que comentei seu poema lá na pizzaria, eu não tinha lido este poema do Drummond. Meu professor de Latim citava quase sempre estes trechos e, talvez, pela lembrança disso, eu não concordei com seu texto.

Bom, espero que você faça justiça ao Drummond e apague o que escreveu sobre ele. Minha opinião, pode deixar, afinal, falei aquilo que pensei mesmo.

Grande abraço,

André"

Anônimo disse...

hey! Arlley
amei o blog!

abração pra ti!!!!

grannnnde irmão!

seu maninho: Biel!