quinta-feira, 21 de abril de 2011

Poesia

Ao ver a “pré visão” dos mentirologistas que choveria, resolvi ir à Paulista ver Poesia de metrô.

Com a ajuda do meu irmão Alex Parreira, consegui chegar cedo. Só foi uma pena não ter conseguido visitar Dom Ávila. Faz muito tempo que não o vejo e todas as vezes que nos vemos e mote de muita emoção para mim. Como um pupilo medieval, fito minha atenção nele sem desviar um segundo sequer.

Pois bem, no metrô tentei pegar meu texto de Filosofia Antiga e ler. Não consegui. Dois pares de conversadores chamaram-me a atenção.

Uma vez numa palestra, um professor disse que se quisermos falar sobre pessoas, devemos observá-las. Discordo. Penso que devemos vivê-las. Devemos mais que observar estar onde elas estão e ali, pela experiência tentar descrever nossa emoção. Não sou bom nisso, estou aprendendo. Aliás, tentei fazer isso no post anterior, mas não consegui. Contudo como diz o Alex Villas Boas, só escrevendo conseguimos progredir.

A personagem de Poesia faz um pouco desses dois. Em uma sala cheia de alunos, ela é a única a expressar que “é difícil escrever um poema” e faz todo o trajeto de outra personagem, vivendo onde ela viveu, fazendo tudo o que ela fez, passando por onde ela passou e nessas passagens faz suas anotações, escreve.

Assim como a personagem no filme, eu, num pequeno trajeto de metrô, percebi o quão feio é o mundo.

Um dos pares do metrô tentava convencer um “amigo” a entrar num negócio com ele. Em seu discurso de frases feitas, dignas de vendedores PAP de última linha, lá pelas tantas ele solta: “Meu, se ali fora tivesse um Camaro (que eu nem sabia que carro era) por novecentos contos, você não ia conseguir a grana amanhã?”. Na hora percebi que esse “negócio” tratava-se desses “negócios piramidais”, esses engana-trouxas que faz muito amigo tornar-se ex-amigo.

Já do outro lado, um casal conversando com todo lirismo era antagônico às violências que o “amigo” dizia para o outro. Sim, porque ficar jogando palavras decoradas e citar nomes que nem se sabe quem é, é violência.

Assim é o mundo. Enquanto de um lado tem o vampiro sugando, temos que procurar algo para desopilar o estresse. Cada um achará o seu claro.

A personagem buscou esse refúgio na poesia.

Como diz o poeta no filme: “Não é difícil escrever um poema, difícil é encontrá-lo no nosso coração" e, muita vez, por mais que não queríamos mexer nesse “lugar” ela aflora, brota, nasce, enquanto outras vezes é “pisoteada e amassada para viver outra vida”.

Independente da maneira que ela nasça, parafraseando o poeta, num mundo onde a poesia está quase morta, é imprescindível que ainda haja amantes da poesia.

Chang-dong Lee mostra-nos através de imagens belíssimas que a vida pode ser feia, enquanto a nós resta-nos em nossas metrópoles feias tentar ver que a vida pode ser bonita.

2 comentários:

Cristiana disse...

Pena não ter conseguido ir ver o filme com vc, meu irmão. Mas ainda pretendo vê-lo e poetar um pouquinho com vc sobre ele. :)

Danilo J. Santos disse...

Linguagem tranquila, boa de ler. A estrutura de crônica deu certo. E, gostei do ponto de vista crítico sob a filosofia, sobretudo à academia, concordo e admito que me surpreendi, com você, grande amigo, e que é admirador da tradição, rs. Bom texto mano. Vou tentar ver o filme amanhã.